O home-office tem sido a principal saída para muitas empresas não pararem sua produção, mesmo com a ideia de trazer maior flexibilidade para os funcionários, o novo formato também trouxe algumas questões que não haviam sido ainda levantadas antes de nos depararmos com a pandemia e suas consequências.
Com as escolas fechadas, muitas profissionais mulheres estão tendo que lidar não só com o trabalho do dia a dia em ambiente home-office, mas também com a criançada em casa 24h por dia sem tempo para descanso. Além dos filhos e do trabalho, muitas precisam lidar com o acúmulo de atividades domésticas, em muitos casos sem a colaboração de outra pessoa na família.
Em uma pesquisa realizada pela Kerney, uma consultoria global de gestão estratégica, feita com mil mulheres nos Estados Unidos, foi relatado que 30% das entrevistadas cogitam deixar o emprego por conta da sobrecarga causada em tempos de pandemia.
Esse cenário se expande para o Brasil, de acordo com Sandra Strongren, gerente sênior de recursos humanos da Kearney Brasil. “Temos conversado com muitas mulheres nesse período, as que não têm filhos mostram insatisfação com o aumento do volume de trabalho, o isolamento e a falta de relacionamento com lideranças e pessoas-chave. Já as casadas e com filhos, além de tudo isso, ainda reclamam do aumento dos afazeres em casa e a falta de uma rede de apoio”.
De acordo com a ONG brasileira Sempreviva Organização Feminista, 50% das brasileiras passaram a ralizar atividades de cuidado, de uma criança ou de um idoso durante a pandemia. Outras entrevistadas relataram aumento da carga de trabalho sem redução salarial, 41% das entrevistadas.
Na pesquisa a faixa de idade das mulheres variava entre 25 e 45 anos considerando carreiras já consolidadas e com oportunidades de crescimento em suas áreas de trabalho, 30% delas migraram para o home office com o início da pandemia, 20% já trabalhavam dessa forma e 50% continuaram no escritório. “No virtual, as reuniões são mais formais, o que cria uma barreira de acesso às lideranças, porque agora não tem mais aquela conversa de corredor, no horário do café, não há tanto espaço para a informalidade, e isso afeta principalmente as mulheres”, explica Strogren.
Os horários de trabalho também são um problema na rotina destas mulheres, de acordo com a pesquisa 70% delas relataram ter horários mais rígidos que o habitual e 40% relataram dificuldades para gerir o acúmulo de tarefas nesse ambiente.
Casos de distúrbios psicológicos foram relatados por conta dessa sobrecarga de tarefas e com o confinamento, o que leva a 30% das entrevistadas cogitarem a saída do emprego em meio à crise de covid-19. De acordo com a gerente da Kearney Brasil, “Quando você perde uma funcionária, o negócio perde em qualidade, porque seu ativo, tudo o que ela acumulou até aquele momento, vai junto”.
Algumas válvulas de escape e ambientes virtuais de acolhimento a essas mulheres podem ser a solução para diminuir o risco de desemprego, plataformas que colaborem na socialização de funcionários, happy hour virtual, flexibilização de horários, encontros informais com as lideranças. A própria Kearney criou diversas ferramentas e projetos apontados nesse sentido, entre eles está o projeto mundial conhecido como “rede de mulheres”, onde lideranças femininas compartilham medos, estratégias e desafios em grupo, unindo resiliência à formatos mais saudáveis de trabalho na pandemia.